Para inicio de
conversa vamos falar de João Bosco. Um filho de camponeses pobres do Norte da
Itália do século XIX, período de conflitos no plano político e econômico, em
destaque a revolução industrial que estava iniciando seus passos nas imediações
de Turim, o principal centro urbano da região na época. Os efeitos desta crise
não poderiam ser outro, êxodo rural, desemprego, violência urbana e abandono
principalmente para a juventude que, migrando da zona rural entravam nas
cidades sem perspectivas e acabavam sendo levados ao sistema prisional. Foi
acompanhando os trabalhos do padre Cafasso, um velho sacerdote que Dom, Bosco
se sensibilizou. Teria que achar uma forma de prevenir e evitar que a juventude
acabasse nas masmorras das prisões. Surge assim o sistema preventivo.
O professor Brasdorico[1]
nos informa que o sistema preventivo baseia nos seguintes pilares. Visão
positiva da pessoa humana. Religiosidade integradora e unificadora. Promoção
integral e Metodologia do amor educativo. A promoção integral, conforme o
professor consiste em ver o ser humano como um todo que, do ponto de vista da
pessoa, deve ser ajudada a promover se integralmente, nas dimensões (somática,
psíquica, espiritual); do ponto de vista social é convidado a participar da
transformação da realidade em perspectiva espiritual, é motivado à caridade
evangélica. Somando à promoção integral acrescentamos a religiosidade
integradora e unificadora, que contempla, a partir da religiosidade o ser
humano nas suas diversas dimensões. Assim entendemos que das
características apresentadas pelo
professor, a promoção integral e a religiosidade integradora/unificadora se
complementam e completam.
De posse destes
esclarecimentos precisamos deixar claro que Dom Bosco colocou em sua pratica
educativa e pastoral um sistema, não uma teoria ou um pressuposto de militância política, mas uma sistema com
fundamentos teóricos ( talvez ele mesmo não tenha esta intenção) e prático. Dom
Bosco era muito pé no chão.
Se entendermos sistema como sendo um conjunto de elementos interdependentes
de modo a formar um todo organizado, logo, o Sistema preventivo é uma
combinação lógica de cuidados, estribados numa ação educativa apoiada na RAZÃO,
enquanto processo de compreensão de si e do mundo, a RELIGIÃO, enquanto busca e
descoberta do sentido da vida e por fim, o que pode ser tido como o termo
gaurda-chuva, AMOREVOLEZZA, que abriga embaixo de si as virtudes relacionais ,
atitudes e comportamentos entre as pessoas, que se revelam em palavras, gestos,
ajudas, dons, sentimentos de amor, de graça e de cordial disponibilidade.
Pensar numa proposta educativa nestes
moldes, em pleno século XIX não era tarefa para alguém que tem um visão
puramente linear do processo educativo. Ainda mais por tratar se de uma época
em que conceitos contemporâneas como inteligências múltiplas e as abordagens
inovadoras da neurociência ainda nem sequer eram ventiladas! Por ai vê se o
brilhantismo da mente de Dom Bosco.
Dom Bosco tem uma visão do todo na sua
maneira de educar e ver a realidade. Esta visão do todo, que Dom Bosco vivencia
no próprio contato com a natureza, com as artes, com a imagem de Deus, com o
processo educativo interativo, oferece um ponto de diálogo fundamental com a
visão sistêmica da realidade aprofundada por várias abordagens....
(MENDES.2017:94)
Percebe se que para Dom Bosco as partes se
unem para formar o todo, assim é a realidade humana. Portanto o processo
educativo não poderá estar deslocado desta realidade sistêmica.
A proposta educativa apresentada por Dom
Bosco, por ser estribada numa visão sistêmica alem de promover integralmente a
pessoa humana com o fito de formar bons cristãos e honestos cidadãos,
proporciona aos educandos e educandas a possibilidade de se descobrir, de se potencializar e se
valorizar prevenindo de todo desvio nocivo á sua personalidade e ao corpo
social, pois assim, o educando adquire maturidade e segurança mediante uma
pratica educativa pautada no afeto, correção e compreensão. Assim conforme
Gildásio Mendes ... a visão do todo
reintegra a pessoa no ambiente, na sua terra, na sua cultura, na sua realidade,
nas relações com a natureza, vendo se como uma extensão do ser humano e não
como uma realidade em partes, separada.[2]. Há neste caso uma
reinserção do educando de forma consciente e proativa, ou seja alguém
protagonista de suas ações no tempo e no espaço.
A visão sistema de Dom Bosco nos legou uma
proposta educativa capaz de vencer uma das consequências do racionalismo instrumental,
que é a fragmentação das pessoas, sociedades, e concepções de mundo, este
efeito mais nocivo e que atualmente vem trazendo consequências desastrosas no
campo das relações internacionais, nas relações do homem com o seu semelhante,
com a natureza e com a sua própria cultura, gerando racismos, intolerância política
e religiosa, neonazismos e neofascismos, xenofobia e tantos outros males que
vemos assolar a sociedade contemporânea. Uma educação pautada no reencontro do
homem consigo mesmo, com deus e com a natureza será capaz de criar novas possibilidades
de entender e viver no mundo
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