sexta-feira, 27 de abril de 2012

CÁCERES : CIDADE DOS CARGOS

No dia 6 de outubro de 1778, as autoridades, dentre elas o tenente de Dragões Antônio Pinto Rego e Carvalho, por determinação do capitão-general da capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres fundava a Vila Maria.
Narra o documento de fundação do povoado que contava ainda na localidade da cerimônia umas famílias de fugitivos da missão de chiquitos, que assistiam o desenrolar dos acontecimentos, esperando quem sabe a indicação do local onde deveriam ser construídas suas casinhas, afinal, ninguém se prontificou a morar de imediato no local destinado ao sitio urbano do mais novo povoado.

Era mais seguro e vantajoso ficar nas imediações da Fazenda Jacobina que, desde 1769 configurava se como um latifúndio produtivo e promissor, do que se aventurar em morar em um local encharcado e lamacento as margens do rio Paraguai.

A verdade é que o latifúndio da Jacobina, já com uma estrutura escravocrata não aceitou estes povos de chiquitos, fugidos das outrora prosperas missões jesuíticas no lado espanhol.

Por varias vezes temos menções dos capitães generais anteriores, inclusive do próprio Albuquerque, solicitando ao governo lusitano sobre a possibilidade de aceitar estes povos em terras portuguesas e, pelo visto estes vieram a calhar com os intentos do governo da Capitania, qual seja, criar um entreposto entre Cuiabá e Mato Grosso (Vila Bela). Eles toparam.

Com bravura resistiram e construíram, ás margens esquerda do rio Paraguai a Vila Maria, hoje cantada em prosa e versos como a princesinha do rio Paraguai.

Eram vigiados pelas autoridades, que tendo em vista o contexto geopolítico da época a maioria eram militares.

Ter cargos militares ou civil era ter o povo nas mãos e angariava simpatia e respeito. Até muito recentemente nestas paragens era promissor e sinônimo de status ter alguém da família nas fileiras das forças armadas ou em alguma intendência qualquer.

As indicações e promoções eram uma catapulta que impulsionava o individuo e sua família a uma outra realidade, a um outro patamar, levava-o a ter contato direto com Cuiabá, São Paulo ou mesmo o Rio de Janeiro.
Após a consolidação das fronteiras com a assinatura do Tratado de Madrid, contingente militar reduz mas com a Guerra contra o Paraguai este é retomado.
Já na passagem dos séculos XIX até meados do XX Cáceres desponta no cenário econômico como uma cidade portuária, a terceira em numero de casas comerciais que importavam e exportavam de tudo, inclusive maquinários para modernizar a produção de fazendas como a Descalvados e a Usina Ressaca etc.

Proporcionou a emergência de uma nova elite, agora formada não mais exclusivamente por funcionários públicos (civis e militares) mas pelas famílias oligárquicas proprietárias de terras e ou de casas comerciais, percebemos uma tentativa ideológica de tirar o ranço inicial do povoado, enterram passado bugre da cidade.
Basta dar uma olhada nos relatos históricos, no século XX tudo o que fazem é deixar claro que Cáceres não era uma cidade de bugres! Tinha cinema, terminal portuário reformado, cemitério novo, praça cercada para o deleite das moças de famílias de bem, uma catedral novinha etc.
Neste contexto, os cargos continuaram sendo importantes. Indicações políticas eram um único elo com a administração estadual que inclusive tinha dificuldades de se consolidar enquanto poder em todo território de Mato Grosso, pois vez e outra tinha seu poder questionado por lideres messiânicos e ou garimpeiros e jagunços como ocorria muito na região do Araguaia, ou mesmo as oligarquias do Sul radicadas em Corumbá.
Mas por aqui não! O loteamento de cargos entre os rebentos das famílias tradicionais garantiam voto e manutenção do poder pela cuiabania. Afinal o governo sabia de nossa existência tanto é que nomeou fulano ou sicrano.

Parece que a sina ficou. Distribuir cargos a expoentes da sociedade cacerense. Tática secular que mantém o povo atrelado a projetos familiares e pessoais. Cada um de Cáceres que é elevado á cargos na administração estadual ou federal é festejado como se legitimidade tivesse para angariar dividendos para Cáceres!
Há um verdadeiro orgasmo coletivo quando alguém assume um cargo indicado. Sinônimo de prestigio! Cáceres só tem a ganhar! Afirmam. Chega a ser ridículo a forma apaixonada com que as pessoas tratam tais indicações!

Nada contra méritos e ou capacidade e competência, não questionamos isso, mas a forma redentora que coloca sobre os ombros dos indicados. Chegam a elogiar até profissionais de carreira concursados que conseguem uma promoção! Vide as colunas sociais de nossos jornais impressos, a pessoa aparece atrelada ao cargo.

Os danos estamos colhendo. O ato de delegar sempre a alguns agraciados a redenção de Cáceres, faz com que não sejamos levados a sérios pelos administradores a nível federal ou estadual. Sabem que vivemos de indicações e emergenciais. Basta liberar um montante aqui, outro ali e uma obra acolá que tudo ficará bem.

As outras esferas da administração sabem que não temos políticas publicas construídas, discutidas no bojo da sociedade, mas sim projetos deste ou daquele grupo político. Até hoje não fomos capazes de pensar Cáceres. Não sabemos nem sequer que cidade queremos!

Os indicados o são por políticos ou, quando muito por tendências. Onde há tendências há disputas, logo tais indicados vivem numa corda bamba, e no final leva o município que tiver mais pressão política!

Explico. Pressão política da sociedade organizada e dos movimentos sociais! Quem são as pressões políticas de Cáceres? Mas e os grupos políticos? Bem me perdoem, mas estão com a boca tapada pelos carguinhos loteados! O movimento de bairros? Estes possuem uma proposta para seu bairro? Se as tem porque se vendem ao primeiro paraquedista?

Os partidos políticos? Sempre estamos inovando até estes entraram no rateio (em se tratando de Cáceres é um movimento recente o qual meu cérebro ainda não conseguiu processar uma analise critica contundente, deixo isso para as gerações futuras...)

Vejam que os indicados não são propositores. Não possuem legitimidade (esta só se consegue com o voto), logo não serão capazes de mudar os rumos do que já está traçado. Quando muito liberam uma verbinha a mais para o FIP, para o Carnaval, para isso ou para aquilo. Só Custeio (tipo de repasse mais suscetível a desvio) ou Emergenciais (que dispensam licitações) ou verbas forféus e balacubacos, com desculpa de ser fomento ou incentivo a cultura, ONGs, etc...

Talvez assim consigamos decifrar a expressão popular que afirma - “para Cáceres tudo é difícil” - Ora, senão vejamos! Desde a época em que tínhamos vice-governador, deputado estadual já se falava em ZPE! - Viram a diferença? Não seria outra a historia se a ZPE fosse uma discussão coletiva e não de um grupo? E a saída para o Pacifico? E a hidrovia Paraguai – Paraná? E o Porto de Morrinhos? E o Pólo Calçadista? E o PRÓ-COURO? Foram políticas públicas pensadas por UM GRUPO POLITICO, com interesses específicos.

Portanto repito: Ocupantes de cargos indicados, não conseguem mudar os rumos de uma política publica, seja ela na área da educação, saúde ou mesmo segurança. Ocupantes de cargos indicados sempre estão a serviço de seus interesses ou de seus familiares ou quando muito de seu grupo político local. Não passa disso.

Queremos ver Cáceres diferente? Construamos um PROJETO POLITICO. Este por obviedades deverá partir da sociedade organizada e dos movimentos sociais. Discutamos os projetos, depois escolhemos os nomes. Chega desta historia de escolher nomes sem projetos e ficar aceitando migalhas e esmolas de Cuiabá via indicações políticas.